Com que carreira poderia sonhar um jovem de 17 anos, ginasiano recém saído do Colégio Rosário, na Porto Alegre de 1947? Certamente com um lugar no Banco do Brasil ou na Caixa Econômica Federal. Edgard Dutra Pinheiro não fugia à regra e, entre seus sonhos, não figurava o de tornar-se um dos mais sólidos empresários do Transporte Coletivo de Porto Alegre.
Edgard era filho de José Gomes Pinheiro e Ernestina Dutra Pinheiro. O pai, telegrafista,também teve uma vida pública dedicada à comunidade, pois a sua época, o telégrafo era uns dos mais eficientes meios de comunicação. Logo após a conclusão do ginásio, em 1948, por intermédio de Antonio Gentil amigo de seu pai, foi trabalhar na Associação dos Funcionários Públicos do Estado do Rio Grande do Sul.
Lá conheceu Álvaro Almeida, que era motorista da Associação e nos finais de semana trabalhava em um carro de praça (táxi) de seu cunhado. Para Almeida o negócio era rentável e tinha futuro e, saindo da Associação, Edgard conseguiu dinheiro emprestado com uma tia, compraram um carro de praça de Erany Eugênio Ricardo onde Álvaro seguiu trabalhando.
Em paralelo, Edgard já havia concluído os estudos no Colégio Júlio de Castilhos e estudava contabilidade num curso técnico no centro da cidade.
De um carro de praça os agora sócios Erany e Edgard passaram a dois, três, e o transporte de passageiros começou a tomar lugar em sua vida tornando-se uma paixão interminável.
A primeira tentativa de iniciar o negócio de transporte coletivo foi buscando receber a concessão da linha Porto Alegre-Florianópolis da empresa Jaeger, que havia perdido temporariamente a concessão após acidente com seu ônibus na travessia da balsa. Venderam os carros de praça e compraram dois ônibus chassi F-600 com carroceria Elizário. Apresentaram-se para o serviço, mas a empresa reverteu sua situação junto aos órgãos federais e retomou a concessão.
A solução que encontraram foi vender os ônibus recém adquiridos e, para trabalhar, compraram uma loja de autopeças, a Importadora Autocanoense, em Canoas. Lá, Erany atendia no balcão e Edgard passava o dia numa lambreta, comprando peças em Porto Alegre para abastecer a loja e fazia as entregas aos clientes.
Em seguida veio à segunda oportunidade para trabalhar no transporte coletivo. Adquiriram três microônibus da linha São Caetano, que atendia a Vila São Caetano, perto do Hospital Espírita, de propriedade de Antonio Luis Lanfredi. A disputa por passageiros era muito grande na linha, que ainda concorria com os bondes da Carris. Com o intuito de racionalizar o serviço fundiram a linha com os proprietários da empresa Transporte Parque Madepinho e iniciaram a trabalhar com escala de fiscalização, de acordo com as diretrizes do Departamento Autônomo de Transporte Coletivo, órgão gestor da Prefeitura de Porto Alegre.
Trouxeram o Almeida para trabalhar com eles nos microônibus, venderam a Importadora Autocanoense e nesse ínterim, receberam a proposta de compra da empresa Santa Isabel em Viamão. Financiados por Amador dos Santos Fernandes, compraram a empresa de 12 ônibus, que logo passou a ser de 20 ônibus com a operação da linha Santa Cecília e, se desdobravam para atender o Parque Madepinho e a Santa Isabel. Tempo depois os sócios venderam em Viamão e retornaram para Porto Alegre, onde a linha Parque Madepinho continuava crescendo.
Em 1960, em seu segundo mandato, o prefeito de Porto Alegre, Loureiro da Silva, decidiu entregar as linhas exploradas pelo município a particulares, com encerramento das atividades do Departamento Autônomo de Transporte Coletivo.Aos sócios Edgard, Almeida e Erany foram concedidas as linhas Lami e Canta Galo, iniciando a história da Viação Belém Novo Ltda., fundada em 27 de novembro de 1962, com sede na Avenida Beira Rio 175, no bairro Belém Novo, inaugurando a primeira garagem coberta para ônibus urbano da Capital.
Mais tarde, as linhas Campo Novo, Belém Velho e Vila Nova somaram-se as demais, além de ter integrado a sua operação as linhas do bairro Restinga até 1989.
Associado as atividades da empresa, por muitos anos Edgard Dutra Pinheiro foi dirigente da associação da categoria, a frente do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário do Rio Grande do Sul. Também foi um dos fundadores da Associação dos Transportadores de Passageiros, entidade que representa a categoria atualmente, pois sempre se esforçou em defender os interesses dos transportadores.
Infelizmente, na sua vida também teve momentos de perdas. Seus sócios Erany e Almeida faleceram no decorrer da caminhada, e a Belém Novo sofre duramente no período de 1988 a 1994, passando por concordata e falência. Entretanto, a missão de servir à comunidade permaneceu inabalada todos os dias nesses anos, mantendo firme mesmo frente a severas adversidades o esforço em colocar os ônibus nas ruas da cidade e trasportar os passageiros.
Em 1996 iniciou-se um novo momento na vida do Sr. Edgard e da Viação Belém Novo. Foi dado início a implantação da gestão da qualidade, com a inauguração do Centro de Treinamento para os funcionários e em seguida a assinatura do Termo de Adesão ao Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade – PGQP.
A reformulação interna da empresa com a gestão da qualidade deu condições à Viação Belém Novo de galgar novas fronteiras, sempre com a missão do Sr. Edgard como norte das ações: atender as necessidades de transporte de nossos clientes, aprimorando continuamente nossos serviços.
Pautou a sua vida pessoal com os mesmos valores que são diretrizes para a Viação Belém Novo Ltda.: ética, respeito, honestidade, transparência e responsabilidade.
A paixão pelo transporte coletivo lhe impediu de dissociar a vida pública da pessoal.
Em 1968 casou-se com Marly Anna Pinheiro, que foi sua esposa, amiga, companheira, confidente. Desta união tiveram três filhos, Aline, Cíntia e Celso. A eles, o casal transmitiu seu maior tesouro: os bons valores da vida que sempre acreditaram e a paixão pelo transporte coletivo.
Em 2007, além dos prêmios de diversos setores alcançados com Viação Belém Novo, o Sr. Edgard foi agraciado em São Paulo na Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbanos com a Medalha de Mérito do Transporte, distinção máxima dentro da sua categoria.
Após esta homenagem em razão de enfermidade que levou ao seu passamento em 02 de janeiro de 2008, afastou-se das funções diárias da empresa, mas manteve-se informado diariamente por seus filhos do dia-a-dia do transporte na cidade. Atualmente, juntamente com sua esposa, seus filhos encontram-se à frente da direção da empresa, imbuídos de dar continuidade aos ensinamentos do pai, amigo, patrão e empresário.
CICLO |
RECONHECIMENTO |
INSTITUIÇÃO PROMOTORA |
2001 |
Diploma Mérito Social |
Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul |
2002 |
Diploma Mérito Social |
Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul |
Diploma de Destaque Nacional pelo Pioneirismo |
Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio Grande do Sul – FETRANSPOR |
2004 |
Troféu Honra ao Mérito |
Câmara Municipal de Porto Alegre |
2007 |
Troféu de Mérito do Transporte Urbano Brasileiro |
Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU |
TOPO